“Fui pegar um documento na tesouraria do banco e apaguei. Acordei com a ambulância vindo me buscar. Da outra vez, já me sentia fraca e dormia apenas uma hora por noite havia semanas. Resultado: convulsionei na minha própria cadeira.” Esse pequeno relato é apenas o início de uma longa batalha contra a depressão e o estresse.
Raquel Faila tinha 21 anos quando isso aconteceu. Algumas semanas após o desmaio, teve outra crise. Dia após dia, aumentavam os sintomas depressivos. A jovem não sentia vontade de assistir à televisão, sair ou comer. No ambiente de trabalho, sentia náusea, apertos no estômago e no peito e uma grande vontade de chorar. Diagnosticada com depressão, passou cinco meses afastada, à base de antidepressivos, anticonvulsivos e antipsicóticos. Na terapia, percebeu o quanto queria melhorar.
A história de Raquel pode soar familiar. E não é para menos. Segundo pesquisa da empresa de recrutamento Robert Half, 42% dos brasileiros sofrem frequentemente de estresse e ansiedade em seu emprego. A média mundial foi de 11%. Foram ouvidos 1.775 diretores de recursos humanos de 12 países. Cem eram do Brasil e apontaram como causas do nosso estresse o excesso de carga de trabalho (52%), a falta de reconhecimento (44%) e pressões econômicas (38%).
Yolanda Brandão, coordenadora de treinamento externo do Nube, ressalta a importância de manter o foco na empregabilidade em qualquer uma dessas situações, protegendo a carreira de pressões externas. Para isso, ela indica os aspectos carentes de cuidado:
- Desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais relacionadas à área de atuação;
- Educação continuada;
- Desenvolver uma rede de relacionamentos profissionais;
- Reserva financeira para garantir mais tranquilidade em um momento difícil no trabalho, ou mesmo durante um período fora do mercado;
Outro ponto muito importante, segundo Yolanda, é a capacidade de perceber suas emoções e usá-las para produzir bons resultados - a chamada inteligência emocional. “Por meio dela, podemos estabelecer relacionamentos positivos e autocontrole. Para desenvolver essa competência, são fundamentais treino, esforço e persistência”, explica.
Ter um cotidiano organizado também é necessário. “Num cenário empresarial altamente competitivo e demandante, percebemos o aumento do nível de estresse entre os profissionais”, afirma Lucimar Bernardini, gestora de Recursos Humanos. Ela possui MBA Executivo pela COPPEAD/UFRJ, pós-Graduação no IAG Master de Recursos Humanos pela PUC/RJ e deixa algumas dicas para manter o equilíbrio:
- Se a pressão para a entrega de resultados for alta, negociar prazos pode ser uma boa alternativa;
- Mantenha sempre um bom relacionamento com os colegas e fortaleça o espírito de trabalho em equipe;
- Procure manter uma comunicação clara e objetiva;
- A resiliência é uma forte aliada para auxiliar na redução do estresse. Busque este equilíbrio interno. Evite agir ou tomar decisões com base em impulsos emocionais;
- Mantenha seus e-mails sempre em dia e evite discutir por meio deles. Se houver necessidade, prefira o telefone para conversar cordialmente, esclarecer dúvidas e encontrar soluções;
- Caso sinta-se sobrecarregado, reveja a forma de executar suas tarefas, enxugue os processos e reduza procedimentos burocráticos ou desnecessários;
- Se houver possibilidade, depois de refletir sobre as próprias atividades, converse com seus pares e líderes sobre reorganização ou redistribuição de tarefas.
Atitudes como essa, segundo a bancária Raquel Faila, podem realmente ajudar. “Adotei uma postura diferente ante aos obstáculos e cobranças no trabalho. Hoje dou o melhor de mim e faço todo o possível, conscientemente”, exemplifica. “Parei de encarar a insatisfação dos clientes e colegas pelo lado pessoal, como se eu tivesse parcela de culpa. Levo as críticas dos meus superiores muitíssimo a sério quando são construtivas”.
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