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A decisão de grande parte dos prefeitos e governadores do Brasil de manter as escolas fechadas na pandemia por quase dois anos, entre março de 2020 e setembro de 2021, causou sérios estragos na educação — como era previsto. Agora os danos começam a ser mensurados. Boa parte das pesquisas e dados oficiais divulgados até agora mostram que os alunos perderam muito em aprendizagem, que a evasão escolar aumentou e que problemas de saúde mental estão mais frequentes.

Os prejuízos na educação se estendem também ao mercado de trabalho. O Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube), empresa que encaminha estudantes para vagas de estágio, observou, na prática, os efeitos da perda de aprendizagem durante a pandemia. Por meio de uma análise dos resultados dos testes seletivos feitos por 59,8 mil candidatos que passaram pelo Nube em 2021, verificou-se que o nível de proficiência em língua portuguesa de estudantes do ensino médio e superior caiu muito em relação a 2019.

Em 2021, 83,5% desses quase 60 mil candidatos a vagas de estágio e de programas de aprendizagem foram reprovados em processos seletivos por apresentarem conhecimento gramatical insuficiente. Apenas 9,9 mil candidatos — ou 16% do total — passaram adiante nos testes seletivos. Ou seja, 49,9 mil foram reprovados.

“Esses números mostram o impacto dos dois últimos anos de pandemia e as aulas remotas, que prejudicaram a aprendizagem”, resumiu Helenice Resende, coordenadora de recrutamento e seleção do Nube, em entrevista a Oeste.

Em 2019, quando o último levantamento do Nube foi feito, o índice de reprovação era de 50% — ou seja — a piora no desempenho cresceu 67% em comparação com o ano de 2021. Nos recrutamentos realizados pelo Nube, além da prova de Português, o aluno é submetido a questões de raciocínio lógico e avaliação comportamental. Quanto à prova gramatical, o candidato responde a questões para avaliar seus conhecimentos em ortografia e interpretação. “Infelizmente, é uma questão estrutural. Se a pessoa não tem um ensino adequado de base, terá dificuldades nos níveis posteriores”, resumiu.

O desempenho dos alunos do ensino médio ou técnico foi um dos piores: 89% dos 6,3 mil alunos reprovaram. No nível superior, no entanto, a performance deixou muito a desejar, até mesmo nos cursos em que a Língua Portuguesa é a chave para o desempenho da profissão.

É o caso dos alunos de Pedagogia, de Letras, de Jornalismo e Direito. Cerca de 79,5% dos estudantes de Jornalismo que participaram dos processos seletivos do Nube em 2021 foram reprovados; no caso dos estudantes de Letras, o índice de reprovação foi de 85,5%, levemente inferior à taxa observada entre os alunos de Direito, de 85,8%. Já entre os candidatos de Pedagogia, apenas 6,5% passaram nos testes gramaticais e de interpretação — ou seja, 93,5% reprovaram.

Helenice explicou que se tratavam de testes com grau de dificuldade adequado ao nível de escolaridade e semelhantes aos aplicados em anos anteriores, antes da pandemia. “Diante do grande índice de reprovação, avaliamos os testes e concluímos que são adequados, que envolvem conhecimento que já deveriam ter sido assimilados no nível médio”, declarou.

Estudos mostram a falência da educação brasileira acentuada pela pandemia

Um estudo conduzido pela Universidade de Zurique e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) demonstrou que não houve aumento dos casos da doença nos 131 municípios paulistas que retomaram as aulas presenciais entre 7 de outubro de 2020 e 17 de dezembro de 2020. Mesmo assim, as aulas remotas foram mantidas até agosto ou setembro de 2021 na maior parte do país.

Os dados mais recentes que atestam o fracasso da decisão do fechamento das escolas foram divulgados no último 16 de setembro pelo Ministério da Educação: as notas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que com a taxa de aprovação, compõe o Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb).

A nota do Saeb, que consiste em provas bienais de Língua Portuguesa e Matemática aplicadas a alunos das escolas públicas e privadas desde os primeiros anos do ensino fundamental até o ensino médio, caiu muito em 2021 em relação a 2019.

No ensino médio, a nota de Língua Portuguesa caiu de 279 para 275 e a de Matemática, de 278 para 271. Nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), a nota de Língua Portuguesa caiu de 262 para 260 e a de Matemática, de 265 para 258; e nos anos iniciais (1º ao 5º ano), a queda foi de 214 para 208 e de 227 para 216, respectivamente.

O Ideb se manteve relativamente estável: no Ensino Médio, ficou em 4,2; nos anos finais do Ensino Fundamental, subiu de 4,9 para 5,1; e nos anos iniciais, caiu de 5,9 para 5,8. Porém, o índice pode ser distorcido, porque é calculado levando-se em consideração não apenas as notas do Seab, mas da taxa de aprovação.

E essas taxas aumentaram em 2021 em relação a 2019 em razão de uma decisão de política educacional: com os alunos estudando a distância, reprová-los poderia incentivar a desistência escolar. Assim, com taxas de aprovação mais altas — ainda que com aprendizado menor, como revelaram as notas do Saeb — o Ideb não reflete necessariamente o cenário causado pela pandemia.

Além disso, as provas do Saeb de 2021, por causa da pandemia, tiveram um índice de comparecimento de 71%, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC. A porcentagem é considerada muito baixa e é possível que os alunos faltantes tenham sido justamente aqueles que estavam mais distantes da escola e, consequentemente, com aprendizagem menor. Em 2019, 81% dos alunos participaram.

Em São Paulo, alunos aprenderam somente 45% do esperado

A queda na aprendizagem revelada pelo Saeb já havia sido observada no Estado de São Paulo em um estudo feito pela Universidade de Zurique, com base em dados fornecidos pela Secretaria da Educação paulista, publicado em agosto. A pesquisa demonstrou que alunos das escolas estaduais de São Paulo, ao final de 2021, haviam aprendido menos da metade (45%) do que era esperado para os últimos dois anos caso as aulas presenciais não tivessem sido interrompidas, e 31% corriam alto risco de evasão escolar.

De autoria de Guilherme Lichand e Carlos Alberto Doria, ambos do Departamento de Economia da Universidade de Zurique, o estudo foi feito a partir da análise de 656 mil boletins escolares e de provas específicas de português e de matemática de 366 mil alunos dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio.

Enquanto as perdas de aprendizagem em 2021 foram de 55%, em 2020, conforme o mesmo estudo, os alunos de São Paulo tiveram perdas de 72,5% — eles aprenderam apenas 27,5% do esperado. Esse é o dado geral.

Em Matemática, ao final de 2021, as perdas acumuladas eram de 67%, ante 81% acumulados no fim de 2020. Em Língua Portuguesa, as perdas estavam acumuladas em 35% no final de 2021, quase metade dos 67% do final de 2020.

No estudo, os autores afirmam que a recuperação, em 2021 em relação a 2020, “tem sido desigual em muitas dimensões”. “Perdas em Matemática parecem ser mais difíceis de reverter do que aquelas em Língua Portuguesa, pelo menos para alunos do ensino médio”, escreveram.

Ao concluir o estudo, Linchan e Doria ressaltam que mesmo com grandes perdas acumuladas depois da volta às aulas presenciais, “os alunos aprenderam a um ritmo muito mais rápido após a pandemia”. Entretanto, chamam a atenção para como o problema passa despercebido. “O fato de o problema permanecer quase invisível após dois anos de pandemia é alarmante, não só para o Brasil, mas para muitos países de baixa e média renda onde as escolas foram fechadas por muito mais tempo do que na Europa ou nos Estados Unidos”.

O estudo dos pesquisadores da Universidade de Zurique também abordou o risco de evasão, que subiu para 35% em 2020, com o fechamento das escolas. E caiu muito pouco em 2021, para 31%, segundo a pesquisa. “Além das desigualdades de aprendizagem para os alunos que ainda estão na escola, o risco de evasão continua a ser uma grande preocupação social. Pelo menos 3 em cada 10 alunos no Estado podem abandonar a escola até 2023”, escreveram os pesquisadores.

 

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