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Com ou sem pandemia, a juventude é uma fase marcada por mudanças e desafios. Nesta etapa, que marca a transição para a vida adulta e durante a qual cada decisão influencia diretamente o futuro educacional e profissional, é comum dedicar-se aos estudos, ao trabalho ou aos dois, simultaneamente. No entanto, a crise sanitária mundial tem imposto mais obstáculos aos jovens brasileiros; afinal, a pandemia aumenta o risco de evasão escolar (seja ainda no colégio ou no curso técnico, seja na faculdade), bem como pressiona os índices de desemprego.Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cerca de 10,5 milhões de jovens nem estudam, nem trabalham. Eles correspondem a quase 24% da população de 15 a 29 anos. O risco é de que esse número aumente. Mais de 54% dos 44,3 milhões de jovens estão empregados, sendo que quase 13% conciliam o trabalho com os estudos e 22% apenas estudam. Os números foram calculados pelo Ipea a partir de dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Pnad Contínua (2019) e da Pnad Covid19 (2020). Essa última tem caráter experimental durante a pandemia.
É comum observar períodos de inatividade na trajetória de jovens, mas longo tempo improdutivo deixa cicatrizes irreparáveis na carreira, conforme conclui o Ipea. E é justamente um alongamento do período sem trabalho ou sem estudo que muitos jovens estão enfrentando no Brasil com a pandemia. Quanto mais tempo longe da escola e do mundo do trabalho, maiores são os riscos de precariedade e exclusão do mercado ao longo da vida. Jovens sem acesso à educação, formação e experiência profissional estão cada vez mais afastados da esfera do trabalho decente.

Os impactos da pandemia começam a mostrar a cara a esse grupo etário de modo mais severo. Levantamento do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) feito com 33.688 jovens de todo o país revelou que quatro a cada 10 entrevistados perderam totalmente ou tiveram a renda diminuída até junho. Mais da metade afirmou que a renda continuou a mesma, mas 25% não estavam trabalhando antes da pandemia, portanto, seguem em situação de vulnerabilidade. Além disso, 27% dos jovens precisaram deixar o emprego por parada temporária das atividades, por demissão ou fechamento do local de trabalho, e 33% buscaram uma forma de complementar a renda. Além disso, 24% dos jovens entre 15 e 29 anos pensam em não voltar à escola.

“É típico da juventude ficar um tempo sem trabalhar e depois voltar. Entretanto, durante a pandemia, percebe-se que, embora eles queiram trabalhar, as necessárias medidas de isolamento social os têm impedido”, ErM Rocha, pesquisadora do Ipea

Desencorajamento
Além de perderem em rendimentos, os jovens têm a motivação afetada, como mostra análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): considerando o mês de julho, cerca de 54% dos nem-nem desistiram de procurar emprego, índice 8% maior do que o registrado em janeiro deste ano. A pesquisa revelou ainda que, entre os jovens que estavam desocupados há mais de um ano (longo prazo), 61% afirmam que pararam de procurar emprego devido à pandemia. A mesma resposta foi dada por 62% dos desempregados em curto prazo. Daqueles que já não estavam procurando emprego antes, cerca de 48% se dizem ainda mais desencorajados em razão da crise sanitária.

Nota-se que a maioria dos nem-nem pertencentes à subcategoria de gravidez, saúde ou incapacidade e afazeres domésticos afirma outros motivos para não procurar emprego no momento. “A pandemia está desmotivando os jovens a buscarem emprego”, afirma Enid Rocha, pesquisadora do Ipea e responsável pelo estudo. “Esse número (de jovens desencorajados para procurar trabalho) pode aumentar muito. É difícil arriscar uma proporção, mas podemos dizer que esses jovens, por não estarem estudando nem trabalhando, ficarão sem acumular experiência e educação. Então, quando voltarem ao mercado, serão colocados para trás com relação à nova geração”, completa.

Economista e doutora em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Enid explica que é comum que os jovens nem-nem transitem dentro e fora do mercado de trabalho. “É típico da juventude ficar um tempo sem trabalhar e, depois, voltar. Entretanto, durante a pandemia, percebe-se que, embora eles queiram trabalhar, as necessárias medidas de isolamento social os têm impedido”, explica.

Sem procurar emprego
A totalidade dos jovens nem-nem (não trabalham, não estudam e não estão em treinamento) divide-se em dois conjuntos. O primeiro inclui os que que integram a força de trabalho porque estão procurando emprego; ou seja, estão desempregados, mas querem trabalhar e buscam oportunidades. O segundo conjunto é dos que estão fora da força de trabalho e não procuram emprego.

Incluem-se nesse segundo grupo jovens desencorajados, que desistiram de procurar trabalho porque acham que não existe emprego para eles; jovens que têm responsabilidades familiares e não estão disponíveis para o mercado de trabalho; e ainda jovens com alguma incapacidade física, problema de saúde ou gravidez e que, por isso, não podem trabalhar. A força de trabalho é composta por ocupados e desocupados (empregados e desempregados que procuram emprego).

Antes da pandemia, a proporção de jovens nem-nem fora da força de trabalho já era alta (57%). Com a crise sanitária, isso aumentou. A análise dos dados pelo Ipea revela que também cresceu a parcela dos jovens nem-nem desocupados. O que garante a subsistência dessas pessoas, muitas vezes, são ajudas do governo: em maio, a maior parte dos nem-nem recebia algum apoio entre Bolsa Família, Auxílio Emergencial e Benefício de Prestação Continuada (BPC). *Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa.

Recomendações
O Ipea produziu um conjunto de propostas para o governo pensando no período pós-covid-19, considerando os diferentes motivos pelos quais os jovens viveram longos períodos de inatividade. Entre as estratégias sugeridas estão a oferta de uma segunda chance de escolarização, como a ampliação da Educação de Jovens e Adultos (EJA), maior oferta da educação infantil e busca ativa de quem está desvinculado do mercado. “Aproveitando toda a estrutura que o governo brasileiro tem e os programas existentes, seria possível fazer uma ação coordenada para alcançar esses jovens”, propõe a pesquisadora do instituto Enid Rocha.

Outro ponto importante é trabalhar as competências socioemocionais dos jovens, pois estudos revelam que a ausência dessas habilidades afeta mais drasticamente essa parte da população. “Os jovens nem-nem apresentam maiores dificuldades em relação à autoestima e a autoconfiança. Por isso, é muito importante ter programas de formação em habilidade socioemocionais. Afinal, muitos não sabem como se comportar em uma entrevista ou trabalhar em equipe”, enumera. Confira o documento com todas as recomendações no link bit.ly/contribuicoesdoipea.

Empecilhos ao emprego
Apesar de a baixa escolaridade ser um fator que diminui as chances de empregabilidade dos jovens, quem tem ensino superior também encontra dificuldade no mercado. Segundo pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), feita com recém-formados entre 2014 e 2018, cerca de 45% dos graduados estão desempregados. Embora a taxa de ocupação ultrapasse 50%, apenas cerca de 25% conseguiram trabalho na área de formação em menos de três meses. Enquanto isso, aproximadamente 21% migraram para outras áreas de atuação diferentes da de formação. Dentre os desempregados, 18,76% estão há mais de um ano em busca de emprego.

Para Helenice Accioly, coordenadora de Seleção do Nube, o mercado está difícil para profissionais de diversas áreas e níveis de formação e não só por causa da pandemia. “A ideia de que quem tem ensino superior não fica sem emprego não faz mais sentido, pois, nos últimos anos, houve um crescimento no número de pessoas nas universidades e aumentou a concorrência de candidatos com esse nível de formação”, explica Helenice, formada em psicologia pela Universidade Paulista e pós-graduada em psicopatologia e saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP).

Por isso, a dica dela para alcançar o tão sonhado cargo é nunca parar de estudar, manter-se atualizado e criar uma boa rede de contatos, para assim, estar ciente das melhores possibilidades. “O momento exige cada vez mais a qualificação do profissional”, aconselha Helenice.

Falta de experiência
Ainda segundo o estudo da Nube, a maioria (58,8%) dos recém-formados desempregados acredita que não conseguirá o “sim” nas entrevistas devido à falta de experiência necessária na área de atuação. Esse é caso de Ronan Bento de Castro, 24 anos, formado há menos de um ano em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB). O foco dele é trabalhar em alguma firma de consultoria. A busca, sem resultado até agora, começou pouco antes da pandemia. “Recebi o feedback de algumas empresas dizendo que eu ainda não me encaixava no perfil”, diz.

Durante a graduação, o jovem estagiou em órgãos públicos e dedicou-se a pesquisas e atividades complementares. “Eu tenho domínio das ferramentas necessárias. Porém, percebo que as empresas dão preferência para ex-estagiários. A ausência de experiência no setor privado pode ter me comprometido”, supõe. Agora, ele tenta usar o tempo livre para aprimorar o perfil profissional e tirar projetos pessoais do papel, como estudar para ingressar em uma segunda graduação. “Entrei em associações, grupos de profissionais que atuam em Brasília, acompanho as mídias, participo de lives e apresento meu perfil quando possível. Estou esperançoso, mas não coloco minha energia somente nisso”, conta.

 

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