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A construção de uma rede de apoio à saúde mental  

Notícia | 07/02/2023

Ana Clara Lima

De acordo com a Workforce Preferences Barometer, a remuneração já deixou de ser a prioridade dos indivíduos há um tempo, movendo-se da primeira posição para a terceira. Atualmente, os trabalhadores focam na qualidade/equilíbrio entre vida pessoal e profissional, sendo essa uma premissa para 59% dos entrevistados. Nesse contexto, as situações de exaustão e estresse crônicos provocados pela rotina corrida e repleta de responsabilidades se tornam cada vez mais comuns. Por essa razão, é tão relevante dispor dos recursos necessários para evitar futuros problemas e manter bons relacionamentos interpessoais. Se você é um estagiário, jovem aprendiz ou pessoa em transição de carreira, fique por dentro de como um ambiente acolhedor pode ser benéfico para todo o coletivo. 

As emoções movem vidas

O cuidado com a mente é fundamental para todos os seres humanos. Com isso, é possível lidar de forma saudável com as inúmeras emoções do dia a dia. Nas mais variadas esferas da vida, o estresse ou até mesmo desânimo pode tomar conta de muita gente atarefada tanto com questões laborais quanto individuais. Não obstante, a discussão acerca das ferramentas necessárias para controlar as emoções ganham forças. 

Nesse sentido, muito se fala sobre o impacto das ações das companhias, juntamente de laços amigáveis, na prevenção contra possíveis transtornos. “A rede de apoio é constituída tanto pelas pessoas com as quais convivemos, como pela equipe na qual compõe o tratamento e as instituições envolvidas, na saúde, socialmente, religião e esportes”, comenta Juliana Mokayad, psiquiatra do Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim.

Logo, é preciso observar as alterações no comportamento de quem nos cerca em prol de oferecer o apoio necessário para evitar o desdobramento de sintomas mais sérios. “Perceber a inexistência de uma convivência social apropriada dentro das capacidades de cada estrutura de personalidade já é um sinal para prestar atenção. Detectando já um déficit a partir de um isolamento progressivo, já nos dá a possibilidade de uma descoberta precoce de um possível transtorno psiquiátrico”, complementa Juliana.

Nesses casos, a irritação não é a única demonstração de perigo. Também devemos analisar o sono, apetite, energia para realização de tarefas e o seu consequente desempenho. “Os sinais e sintomas, muitas vezes, são mais inespecíficos e isso dificulta a suspeita precoce de algo estar ocorrendo. O mais importante é não minimizar e/ou banalizar as queixas, mudanças de comportamento e agitações. Toda modificação comportamental precisa ser investigada”, complementa a psiquiatra do Cejam.

É preciso apoiar a saúde mental do time

Conforme dados publicados pela Gattaz Health & Results, dentre 18% dos profissionais brasileiros levantados, 20% são vítimas da Síndrome de Burnout. Desde 2019, a condição foi oficializada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional. Por isso, a romantização da produtividade tem sido deixada de lado em prol de uma entrega mais realista e alcançável. 

Nos últimos anos, o olhar sobre esse assunto ficou mais aguçado a fim de corrigir certas situações e mapear possíveis quadros de burnout. “Em muitas empresas o RH ainda é visto como uma área operacional trabalhando de forma reativa. Ou seja, atuando em demandas e problemas dos quais acontecem no dia a dia. Entretanto, na verdade o setor se transformou em Gente e Gestão (e esse é um novo termo muito utilizado, ou Pessoas e Cultura) exatamente para poder operar de uma maneira preventiva, pró ativa”, pontua Karine Cavalcanti, especialista em Recrutamento e Seleção. 

Nesse cenário, os processos internos e externos devem possuir o mesmo grau de importância dos integrantes dos times. “Sabemos como o enfrentamento das doenças e a superação delas são questões muito pessoais, mas existem medidas preventivas das quais a entidade pode tomar para evitar o surgimento de transtornos internos e, ainda, amenizar as consequências deles no ambiente de trabalho”, ressalta a especialista.

Como implementar uma rede de apoio nas empresas? 

Escutar as demandas internas é essencial para quem busca desenvolver uma conduta envolvente com os funcionários. Quando se entende o perfil do staff, é viável adotar medidas certeiras e até mesmo economizar nos gastos não tão bem aproveitados. Isso também se deve ao fato dos impostos calculados em cima auxílios serem menores se comparados com a receita de salários. 

Dessa forma, as organizações encontram excelentes alternativas, como parcerias e descontos para as mais variadas categorias de assistência. “Apostar em benefícios para esse quesito é uma excelente estratégia para conseguir reforçar a importância de cuidar da saúde mental do seu time. Enquanto existem instituições com o olhar voltado para o entretenimento e outras coisas, alinhar o pacote de auxílios de uma firma ao bem-estar demonstra uma cultura focada em saúde, algo muito valorizado hoje pelos membros do quadro”, sugere Karine.

Ademais, a humanização da diretoria possui um papel significativo na hora de apresentar-se ética e consciente para o público. Por isso, deve-se investir na capacitação de líderes para falar sobre emoções e como os seus integrantes da equipe estão se sentindo. Esse é um dos caminhos mais assertivos para conseguir mapear potenciais riscos psicológicos.

Torna-se evidente, portanto, como sentar em frente a um computador por 12h não é sinônimo de produtividade. Afinal, o importante é a quantidade e qualidade das entregas e, para isso, é preciso estar bem consigo mesmo. Assim sendo, o acompanhamento médico deve estar em dia juntamente ao respeito mútuo aos limites de cada um. “Nunca devemos caracterizar essas alterações como ‘frescura ou preguiça’, antes de ser avaliado pelos profissionais habilitados”, finaliza Juliana.

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